7 de mai. de 2009

Deus era agilista?

Antes de iniciar meu texto, gostaria de comunicar que este post é resultado de uma leitura da introdução do livro “A Estratégia da Genialidade - Vol.1”, de Robert Dilts, que faz uma análise da estrutura lingüística utilizada no livro Gênesis da Bíblia Sagrada. O texto não possui nenhuma conotação religiosa e mantém total respeito ao referido texto.

“Quero saber como Deus criou o mundo. Não estou
interessado neste ou naquele fenômeno, ou no espectro
deste ou daquele elemento; quero conhecer os
seus pensamentos; o resto são detalhes.”
Albert Einstein

Na introdução do livro citado acima, Robert Dilts escreve:

As palavras poderosas e emocionantes do Gênesis nos contam a história da criação em vários níveis. Além de descrever o que foi criado, está descrito o processo de como foi criado. Ali vemos a descrição “dos pensamentos de Deus” sob a forma de uma estratégia criativa que possui uma estrutura específica. Trata-se de uma estratégia que inclui um certo número de etapas que se desenvolvem em um ciclo contínuo que se retroalimenta.

Interessante! Segundo as observações de Dilts, a criação do mundo, pelo o que está escrito na Bíblia Sagrada, foi feita por um processo iterativo incremental! E continua:

A criação começa a partir de uma distinção – da criação de uma diferença. Este primeiro ato leva a outro e em seguida a outro e depois a outro – cada idéia estabelecendo o potencial para a próxima. Cada ato de criação inclui a reiteração de um ciclo que compreende três processos fundamentais:

1) Conceitualização: “E disse Deus: Haja ...”
2) Implantação: “E Deus fez ...”
3) Avaliação: “E viu Deus que era bom.”

Ficou muito claro para mim que o processo de criação do mundo, segundo a Bíblia Sagrada, está baseado num processo semelhante ao Scrum, pois contempla: Sprints com prazo fixo de 1 dia de duração (cada ato de criação se passa em um dia), um Product Backlog priorizado no início de cada Sprint (conceitualização), a realização do Sprint Backlog em cada dia (implantação) e a revisão daquilo que foi feito num Sprint Review. Só que considerando a onipotência e a onipresença de Deus, ele atuou em seu projeto como Product Owner, Scrum Master e Team Member, simultaneamente. Outro detalhe é que não há um detalhamento de requisitos no começo do processo, o que implica um projeto de natureza Just-in-Time (estoque zero). Para completar, Dilts expõe sua visão final do processo, que ao meu ver serve para descrever a forma criativa que procuramos adotar nas metodologias ágeis:

Cada ciclo provoca uma sucessão de idéias cada vez mais pessoais e refinadas. Com cada um dos ciclos, a idéia assume cada vez mais vida própria – ela é capaz de criar, multiplicar e sustentar outras idéias. A expressão maior reflete o processo do Criador de tal maneira que é capaz de abastecer todas as outras criações enquanto se multiplica.

Uma bela descrição do desenvolvimento ágil! Não é verdade?
Criar todo o mundo em 6 dias e descansar no 7º realmente foi uma obra divina!

Para aqueles que ficaram curiosos sobre o que está escrito no Gênesis, este é um livro de autoria desconhecida, porém atribuída a Moisés na tradição judaico-cristã. Ele deve ter sido escrito por volta dos anos 1450-1410 a.C., para descrever o princípio de tudo. É o primeiro livro da Bíblia Sagrada. Transcrevo o texto do Gênesis extraído do site http://www.bibliaonline.com.br/, onde fica claro que, no momento da criação do homem à Sua imagem e semelhança, estavam sendo concebidos os verdadeiros Usuários de toda a criação! ;-)

Gênesis 1:1 – 2:3

No princípio criou Deus os céus e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. E disse Deus: Haja luz; e houve luz. E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas. E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro.

E disse Deus: Haja uma expansão no meio das águas, e haja separação entre águas e águas. E fez Deus a expansão, e fez separação entre as águas que estavam debaixo da expansão e as águas que estavam sobre a expansão; e assim foi. E chamou Deus à expansão Céus, e foi a tarde e a manhã, o dia segundo.

E disse Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num lugar; e apareça a porção seca; e assim foi. E chamou Deus à porção seca Terra; e ao ajuntamento das águas chamou Mares; e viu Deus que era bom. E disse Deus: Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente está nela sobre a terra; e assim foi. E a terra produziu erva, erva dando semente conforme a sua espécie, e a árvore frutífera, cuja semente está nela conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom. E foi a tarde e a manhã, o dia terceiro.

E disse Deus: Haja luminares na expansão dos céus, para haver separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais e para tempos determinados e para dias e anos. E sejam para luminares na expansão dos céus, para iluminar a terra; e assim foi. E fez Deus os dois grandes luminares: o luminar maior para governar o dia, e o luminar menor para governar a noite; e fez as estrelas. E Deus os pôs na expansão dos céus para iluminar a terra, E para governar o dia e a noite, e para fazer separação entre a luz e as trevas; e viu Deus que era bom. E foi a tarde e a manhã, o dia quarto.

E disse Deus: Produzam as águas abundantemente répteis de alma vivente; e voem as aves sobre a face da expansão dos céus. E Deus criou as grandes baleias, e todo o réptil de alma vivente que as águas abundantemente produziram conforme as suas espécies; e toda a ave de asas conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom. E Deus os abençoou, dizendo: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei as águas nos mares; e as aves se multipliquem na terra. E foi a tarde e a manhã, o dia quinto.

E disse Deus: Produza a terra alma vivente conforme a sua espécie; gado, e répteis e feras da terra conforme a sua espécie; e assim foi. E fez Deus as feras da terra conforme a sua espécie, e o gado conforme a sua espécie, e todo o réptil da terra conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom.

E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra.

E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda a erva que dê semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê semente, ser-vos-á para mantimento. E a todo o animal da terra, e a toda a ave dos céus, e a todo o réptil da terra, em que há alma vivente, toda a erva verde será para mantimento; e assim foi. E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom; e foi a tarde e a manhã, o dia sexto.

Assim os céus, a terra e todo o seu exército foram acabados. E havendo Deus acabado no dia sétimo a obra que fizera, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que Deus criara e fizera.

4 comentários:

Jaime Schettini disse...

Muito bom Luiz. Gosto muito de reflexões como esta. Sabes que o teu estilo parece muito com o de uma professora/amiga minha? Ela sempre tem uma visão diferente e criativa das coisas que fazemos na nossa área, assim como as tuas idéias.
Parabéns.

Clavius Tales disse...

És um pândego, Parzianello. Boa parte da comunidade ágil já é tachada de dogmática, e você ainda vem temperar o caldo com textos bíblicos. E logo o Gênesis.
Um abraço.

Parzianello, L.C. disse...

Hehehe! Clavius, o pior é que sou budista ... ;-) Em breve, vou fazer uma analogia entre o manifesto ágil e o Zen Budismo, que não é contra as escrituras, mas valoriza mais a prática do que o apego ao que está escrito ... Abraço!

Unknown disse...

Caro amigo, o bom humor será sempre bem vindo. Pois aprender com prazer é muito melhor, e o bom humor é uma execelente ferramenta de aprendizagem. Parabéns pela analogia bem humorada!